Por: Núbia Alves
Na mitologia grega, Himeros é o deus do desejo, filho de Afrodite e irmão gêmeo dos deuses Eros (amor) e Pothos (Paixão). Como uma tríade, os três deuses eram constantemente confundidos, por serem muito parecidos. E trazendo para o contexto social amoroso, continuam a ser confundidos pelos seres mortais, principalmente quando o desejo tenta falar mais alto ou ser o centro das atenções diante dos demais sentimentos.
As nossas ações, sonhos e motivações são movidas pelos sentimentos, e dentre eles, hoje quero falar sobre a tríade que acompanha e confunde muitos de nós. O primeiro deles, o desejo, está presente em tudo, seja de forma física ou espiritual. Como na comida que irá satisfazer a nossa vontade ou aquilo que guardamos no nosso íntimo e, por diversas vezes, também denominamos como sonho. Esse que vaga no nosso (in)consciente e é capaz de movermo-nos aos mais variados lugares e situações. É exatamente essa variação do desejo que, dependendo da dosagem, pode nos causar tantos problemas.
Desejar demais algo pode nos cegar a ponto de dominar nossas escolhas, e isso é extremamente perigoso. Vejamos o exemplo do desejo físico, o que envolve a volúpia, o prazer, este já foi tema para diversas histórias de amor e tragédia. Esse tipo de desejo é capaz de modificar pessoas e fazer com que os que lhe carregam cometam as maiores loucuras em nome daquilo que o desejo fantasia como “paixão”. O nosso segundo sentimento a ser analisado.
Os gregos já advertiam sobre os perigos das paixões e dos desejos. Ambos os sentimentos são construídos no inconsciente, muito antes de acontecer de fato. Cada pessoa possui a fantasia de que a sua metade está por aí e um belo dia vai aparecer. Freud nos fala que a paixão não se trata de um encontro, mas um reencontro de uma figura que já estava pré-marcada dentro da pessoa. Ou seja, cada um de nós imagina uma pessoa que, de repente, aparece. Como um delírio pensado e materializado em forma física, capaz de proporcionar os maiores prazeres do ser humano, mas também cegá-lo para enxergar as imperfeições do ser amado. E quando não correspondida, a paixão pode levar o seu receptor a mais profunda tristeza. Assim também é o desejo. Quando não concretizado, pode levar o indivíduo a sua absoluta frustação.
Estudiosos afirmam que a paixão, assim como o desejo, possui um tempo determinado. Que embora intensos, sem o amor, não duram muito. E que após vivenciados, saciados, podem cair na triste realidade de serem apenas uma vontade momentânea.
O nosso terceiro elemento da tríade, o amor, carrega consigo uma complexidade única e poucas vezes são vivenciados durante a vida. Pelo menos, não na sua completa plenitude, pois assim como os demais elementos da tríade, necessita ser compreendido e não confundido. Os gregos diziam que o amor pode ser visto em três formas distintas e complementares: Eros (que visa somente o próprio prazer e satisfação libidinal); Philia (amizade, o amor entre amigos e que visa a um retorno afetivo); e Ágape (o amor sublime e incondicional, desinteressado e desmedido). E romanticamente falando, para viver plenamente o sentimento amoroso, é preciso unir os seus três formatos em um único elemento.
O amor é o elemento principal das grandes histórias. Pode ser cura e doença, riso e choro, felicidade e tristeza, vida e morte, se acaso for vivido de forma unilateral. Tal sentimento exige extrema doação e compreensão do seu portador. Por isso, quando amamos, fazemos de tudo em prol da concretização desse amor, mesmo que isso nos faça sofrer ao longo do processo. Afinal, amar não é fácil. Sentir, seja qualquer um dos elementos analisados ao longo dessa escrita, mexe com a nossa cabeça de diversas maneiras. E seja qual for o sentimento dessa tríade, você caminhará em uma corda bamba, torcendo para não cair, ou ao menos sobreviver a queda.