Às vezes cansa ser a mulher independente

Por: Dani Fechine 

Depois de alguns bons e velhos dez anos, em uma noite despretensiosa, ela sentou novamente no banco de passageiro do carro. Foi guiada por alguém. Conduzida. Deixou de ser, por poucos minutos, a mulher independente. Que compra carro, casa, mora sozinha, resolve tudo, pega e deixa namorado em casa. Sentiu, naquele instante, uma sensação de proteção que há muito não sentia. Ainda era o carro dela, mas ali ela se entregou para ser a pessoa que, de certa forma, estava sendo cuidada. E se sentiu segura. Por alguns minutos, sentiu que qualquer coisa poderia lhe acontecer e estava tudo bem. Não era sobre quem dirigia. Era sobre ela.

A verdade é que às vezes cansa ser a mulher independente. A mulher forte. Corajosa. Inteligente. Tem dias que a gente só quer ser buscada em casa, seja pra onde for, ter a mão de alguém passando por nossa nuca enquanto ele dirige. Subir as pernas para o banco em uma posição confortável. Aproveitar o percurso. A companhia. Conversar sem prestar atenção no trânsito. Sentir-se parte e não meio.

Às vezes cansa ser a mulher independente. Tem dias que a gente quer ser a menina que dança sem parar, não cansa. Que bebe despretensiosamente, mas que se empolga e exagera na dose. Tem dias que a gente só quer passar dos limites. Quebrar a imagem da mulher que não pode andar fora da linha. O forró já dizia e eu concordo: mulher na linha, o trem pega.

Tem dias que a gente quer acordar e não ter o que fazer. Não se preocupar com a conta de energia ou simplesmente esquecer de pagar a fatura do cartão, porque vale mais a pena a cama quentinha e a série em dia. A obrigação fica pra depois.

A mulher independente cheia de metas e objetivos fica pra depois. Hoje eu só quero me sentir dona de mim, na dependência, quem sabe, de ser deixada em casa, ou na liberdade de ser quem eu quiser embaixo de um jogo de luz e de um som alto. Hoje eu cansei de ser a mulher independente que todo mundo admira. Eu quero uma noite da mulher insana e impulsiva que tem dentro de mim. Talvez independente. Mas não obrigatoriamente independente.

Tags:

MAIS LIDAS

ÚLTIMAS POSTAGENS

Menu