Aceita-se elogios

Por: Marcela Quirino

Aposto que você já viveu essa situação: alguém diz que você tem talento pra alguma coisa e você logo rebate que não, que o que você faz não tem nada demais. Tem também aquela, quando dizem que você está bonita ou bonito e você acha que só estão querendo te agradar. Ou ainda quando elogiam o seu trabalho mas você desacredita, afinal, o trabalho de Fulano de Tal é muito melhor do que o seu. Eu sei que você sabe do que eu tô falando. A autodepreciação, meus amigos, corre nas veias dos seres modestos e inseguros. Todos os dias a gente levanta da cama com a cara e a coragem na busca por qualquer coisa que dê sentido à vida. Toda hora a gente se dedica a algo na esperança de ser reconhecido, acolhido, valorizado. Mas aí quando alguém chega e faz isso, a gente faz o quê? Recusa. Agora me diz: tem como entender o ser humano? É como se a gente tirasse 10 numa prova, mas implorasse ao professor por um 0.

Sim, eu sou dessas. Me diga que o meu trabalho é massa e eu vou te provar que existem outros melhores. Fale que eu sou uma pessoa legal e eu logo vou te enumerar todos os meus defeitos. Elogie a minha roupa e eu vou responder: “comprei na C&A, foi 20 reais”. É bizarro, eu sei, mas é mais forte do que eu. A solução talvez seria se inventassem uma lei, sujeita a penas gravíssimas, que nos obrigasse a escutar, simplesmente escutar, os elogios que nos fazem. Se possível, agradecer. Quem sabe até concordar: “porra, verdade, que mulher foda que eu sou”. Acontece que no meu mundo isso é tão possível quanto uma nevasca no Sertão. Não que eu não tenha autoestima, não é essa a questão. É que quando a gente é desprendido de vaidades realmente é difícil reconhecer os nossos valores. Além do mais, vamos combinar: é muito melhor ser humilde do que egocêntrico! Mas é aí que mora o perigo, quando, na tentativa de sermos coerentes, a gente se autodeprecia.

Carregar um rei na barriga é terrível, isso é fato, mas você também não precisa mergulhar de cabeça no balde de lixo, ok? Falo isso pra vocês ao mesmo tempo em que falo pra mim, agora que decidi que a autovalorização vai ser a minha tarefa de casa diária. Nas redes sociais ou numa roda de amigos a autodepreciação pode até ser engraçada, mas na verdade ela é bem perigosa. Se a gente mesmo não se valoriza, como esperar que as pessoas façam isso? Seja física ou intelectualmente, todos os nossos valores precisam, sim, ser enaltecidos. Antes de perguntar “inteligente, eu?”, a gente precisa substituir a interrogação pela exclamação. Não vai ser um processo fácil – na verdade, acho que eu nunca vou saber lidar com elogios – mas difícil mesmo é passar por essa vida sem enxergar o nosso potencial.

Sabe uma criança que, depois de se machucar, merece o afago dos pais? Ou um estudante que, depois de muito se dedicar, merece passar de ano? Nós, como pessoas cheias de belezas, talentos, histórias e bagagens, merecemos esse reconhecimento. Nenhum troféu é dado em vão. Ninguém precisa agradar ninguém. Elogiar alguém é simplesmente demonstrar uma admiração que tem razão de existir. É a gentileza se fazendo ação, é abraço transformado em palavra. Que burrice a nossa em recusar isso! Tô prestes a sair por aí com uma placa contendo os dizeres: ACEITA-SE ELOGIOS. Talvez eu não saiba como reagir quando receber um. Talvez eu fique super envergonhada por fora. Mas prometo ficar muito grata por dentro.

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