O Controle da Sexualidade Feminina e o Mito da “Ninfomaníaca”

Por: Tiana Borba (Doutoranda em Sociologia – UFPB)

Em torno do sexo se criou uma política de controle que atingiria especialmente as mulheres e homossexuais que têm a expressão de seus desejos investigados e controlados por meio de saberes que atuam como poderes (FOUCAULT, 2005). Para Foucault (2005) a sexualidade é um dispositivo histórico que surgiu a partir do momento que a ciência passou a tratar sobre o sexo, sendo sustentado por saberes e discursos. Assim, a sexualidade dita como “normal” se limitou à esfera da família monogâmica, heterossexual e voltada para cumprir funções produtivas na sociedade. 

As mulheres, em especial, são um alvo importante do controle da sexualidade, a começar pela criação do mito da “mulher histérica”, que por décadas justificou a psiquiatrização das mulheres. Dentro desta lógica as mulheres consideradas improdutivas na economia do trabalho capitalista são deslegitimadas em sua sexualidade, psquiatrizadas e classificadas como desequilibradas ou mesmo neuróticas. 

Contemporaneamente as mulheres que abertamente declaram seu interesse por sexo são patologizadas sob a pecha da “ninfomaníaca”. A repressão sexual sob os corpos das mulheres alimentou a fantasia da “ninfomaníaca”. Esta narrativa se constrói sob o argumento defendido por séculos, de que as mulheres não possuíam desejos sexuais, logo qualquer uma demonstrasse desejo seria doente. O mito da “mulher insaciável” é muito mais uma fantasia masculina, que trouxe repercussões de sofrimento para as mulheres. Usualmente o termo “Ninfomaníaca” é utilizado pejorativamente para designar mulheres que, de alguma forma, saem do padrão social esperado.

Portanto, em linhas gerais, há o desenvolvimento de um saber-poder sobre a sexualidade que produziu seres humanos sujeitando-os a uma verdade, dizendo o que eles são no fundo (FOUCAULT, 2005). Nesse sentido, por muitas décadas, a sexualidade feminina foi considerada passiva, fato que reforça estereótipos e preconceitos (GIDDENS, 1993). Associado a isso, de modo geral, a sexualidade é reduzida à genitália, o que para as mulheres é algo considerado não apropriado, vergonhoso e proibido. Os homens, ao contrário das mulheres, são educados para viver o prazer da sexualidade por meio de seus corpos, uma vez que socialmente o exercício da sexualidade para o homem é representativo de masculinidade. Por outro lado, desde a infância, as mulheres são reprimidas e seus comportamentos controlados. 

Referências: 

FOUCAULT, Michael. História da sexualidade I: a vontade de saber. 16 ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2005.

GIDDENS, A. A transformação da intimidade: sexualidade, amor e erotismo nas sociedades modernas. São Paulo: Editora Unesp, 1993. 

 

Tags:

MAIS LIDAS

ÚLTIMAS POSTAGENS

Menu