Por: Jayane Souza
Desde que sou menina e me entendo por gente, sinto a necessidade de agradar. É bem difícil quando se nasce mulher, gorda e fora do padrão. Não só do padrão, mas de todas as expectativas do que eu deveria ser, principalmente quando elas vêm de todos os lados, mas principalmente dos seus. O fato é que, desde que compreendi que eu estava no mundo, a obrigatoriedade de ser alguém para que o outro se sentisse bem é uma realidade. A partir daí, todos os relacionamentos, fossem eles amorosos ou não, passavam pela urgência da validação.
E isso é muito perigoso! Imagine ter a necessidade de ser validada, observada, admirada e amada por pessoas que não te conhecem e isso ter tanto impacto na sua vida a ponto de definir como você se sente e as decisões que são tomadas sobre o futuro. Quantas oportunidades são perdidas e transformadas em pó por causa disso? Inúmeras. Quantas desilusões poderiam ter não acontecido? Quantos sofrimentos deveriam ter sido evitados? Incontáveis vezes essas questões permearam a minha vida e tomaram uma proporção tão grande que, em alguns momentos, passaram despercebidas.
É preciso de afeto para poder viver. É fato, isso é inegável. Mas o importante mesmo é perceber até que ponto a necessidade de afeto faz com que a gente se permita passar pela avaliação do outro para ser feliz. Entender que é incrível ser amada, traz à tona sentimentos bonitos e sinceros. Mas ser amada pelas pessoas certas, por aqueles que acreditam em quem você é realmente e reconhece todas as suas características… Isso sim é fantástico. O resto é só ilusão. Afeto só é bom quando ele existe de verdade e quando não precisa da validação errada apara que ele aconteça.
Por isso, deixo aqui uma música que foi eternizada na voz de Maria Gadú e pode ser usada como mantra para todas as vezes que ousarmos pensar que não somos suficientes para a sociedade:
“Quando já não tinha espaço, pequena fui
Onde a vida me cabia apertada
Em um canto qualquer acomodei
Minha dança, os meu traços de chuva
E o que é estar em paz
Pra ser minha e assim ser tua”