Mães, por que as deixamos sozinhas?

Por: Ana Beatriz Rocha

Eu nunca quis ser mãe. Nunca quis olhar pra um outro alguém com olhos de quem é responsável por um mundo inteiro de sucessos ou fracassos, porque é um pouco disso que nos ensinam sobre as mães. Quando mais nova esse “nunca quero ser” tinha tons idiotas, de quem se achava superior por “estar indo contra a corrente”. Bobagem infinita. Hoje, ainda afastada do desejo da maternidade, falo como alguém que, graças ao feminismo e ao jornalismo, passou os últimos anos ouvindo diversas mães sobre seus viveres plurais, sonhos, medos e pequenas revoluções diárias.

Hoje eu vejo que o problema está, infinitamente mais, no lado de fora. No lado que não consegue ser aldeia para cuidar das crianças (e tenho responsabilidade nisso). O maternar não é dever nem só da mulher que gesta, nem da que adota. O cuidar deveria ser coletivo. Educação e orientação positiva, afeto, gentileza e respeito ao desenvolvimento das crianças deveria ser da conta de todo mundo. Por que não sabemos disso? Por que não nos ensinam isso? Por que o individualismo de “cada casa com seus problemas” nos infecta tanto, a ponto de vermos mães exaustas por todos os lugares?

Eu ainda não quero ser mãe, e hoje os motivos são bem menos idiotas e mesquinhos. São mais reais. São, também, um entendimento do meu direito de mulher. Mas eu jamais desmereceria a maternagem, jamais demonizaria um fazer que precisa ser corajoso, já que o mundo não dá suporte para ser leve.

Que as mães, mais que qualquer coisa, possam descansar dentro de sua humanidade tão falha quanto a de todas as outras pessoas. Que as mães possam errar, sem sentir que cada passo pode ser aterrador diante de uma solidão no cuidar do outro.

Hoje, mais velha, escutadora do mundo dos outros, eu entendo muito mais minha mãe. Ninguém apaga as mágoas de experiências ruins, mas jamais saberemos quem faria diferente ou não. O pouco que aprendi sobre maternagem é: cada um luta com os recursos que tem, dos estruturais aos emocionais. As vezes são infinitos, as vezes são quase nada.

Qual nossa responsabilidade coletiva nisso tudo?

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