Por: Carol Andrade
Demorei 8 meses pra ter a coragem de escrever sobre tudo que eu senti quando você ignorou os meus sentimentos. Você não faz ideia de quantas crises de ansiedade e de pânico eu tive, de como eu tremia com medo de alguém falar sobre você, ou de te ver na rua, nas redes sociais, em qualquer canto.
Não confiei em mais ninguém depois de tudo aquilo. Depois de ter te confiado vários, vários dos meus sentimentos sobre alguém que, naquela época, era importante demais pra mim. Alguém que te descrevi como “o amor da minha vida”.
Nunca vou esquecer as mensagens que eu te enviei na época, implorando (olha só que humilhação) pra deixar o caminho da gente livre. Um caminho que já era tortuoso por si só. Um caminho que, com muito mais baixos do que altos, a gente ainda insistia em nome dos muitos anos de uma história muito bonita, enquanto durou. Vendo hoje, de fora, um absoluto erro ter insistido nesse ‘relacionamento’. Mas essa carta não é sobre isso.
Te juro que as minhas mãos gelam e o meu coração bate errado de angústia só de lembrar o quanto você me ouviu chorar, através da única parede que dividia os nossos apartamentos. Eu sei que você ouvia. Às vezes, eu nem conseguia me controlar. E eu chorava tanto, sozinha, rezando pra que aquela dor passasse e que você (!) tivesse piedade do que eu tava sentindo.
Eu nunca tinha me sentido tão traída na minha vida. Nunca ninguém tinha usado tanto do que eu tinha compartilhado pra me deixar na situação em que eu fiquei, quando você ignorou tudo aquilo.
Por tanto tempo eu te odiei tanto. Tanto. E me sentia culpada por isso. Me sentia hipócrita de querer falar em nome do feminismo, já tendo errado tanto com outras mulheres e te odiando dessa forma.
A questão com você ia muito além daquele relacionamento falido que por muito tempo eu quis resgatar. E caso você tenha pensado algo do tipo, não. Nada disso é sobre ela. É sobre o rancor e a culpa que se instalaram aqui quando você ignorou tudo isso.
Criei vários traumas. Não conseguia passar mais aí perto do prédio em que morávamos (ou que você ainda mora, não sei). E caso você não saiba, me mudei por causa de você. Eu já tinha aguentado tanta coisa por causa daquele relacionamento… Fui acusada de tanta coisa que nunca fiz, carreguei comigo culpas que hoje eu entendo que nunca tive. Diversas pessoas se afastaram de mim sem nunca terem me ouvido. Diante de tudo isso, você foi o golpe de misericórdia pra que eu fugisse, literalmente, daquele emaranhado de dor. E como doeu!
A sua traição (e as mentiras que você sabe que contou pra gente) talvez tenha sido pior do que tudo isso junto. É pesado, eu sei. Mas te juro que mais pesado do que tudo isso que eu estou escrevendo, foi ter vivido essa dor. Foi ter ido pro meio da avenida principal, sem nenhuma pretensão de voltar, naquele novembro do ano passado.
Eu precisava escrever isso aqui, pra não te odiar mais tanto, pra diluir essa raiva que não faz bem, principalmente, a mim. E, claro, pra fazer jus a mulher que renasceu, infinitamente mais forte, desde que você me deixou no poço. Desde que eu aprendi, de verdade, que dali, apesar da dor, eu só podia subir.
Em nome de toda a sororidade que eu tento viver, me desculpo com todas as mulheres que já magoei direta ou indiretamente e te enterro com todo esse mal. Porque a sororidade é necessária, mas o coração é de gente. Ele não se recompõe com a facilidade e a agilidade que a gente gostaria.
E mais, sororidade não é atenuar. Assim, me livro de mais uma culpa que eu nunca tive: o medo de te odiar.
Eu não te perdoei, mas já não te odeio tanto, em nome da sororidade.