Junte um quarto organizado e um modus operandis metódico numa pessoa que consegue fazer um único trabalho por vez. Esta, definitivamente, não sou eu. Minha organização se limita a coisas digitais, sou completamente movida pelo feeling e a adrenalina do prazo acabando enquanto penso em 20 coisas ao mesmo tempo. A propósito, me chamo Gi Ismael e tenho uma paixão pelas câmeras. Fotografar, filmar, olhar para uma, conversar através delas. Talvez o que tenha me levado a perseguir a carreira jornalística tenha sido esse prazer de compartilhar coisas com outras pessoas. Amores, passatempos e coisas pelas quais valem a pena lutar. Consumir ideias e passá-las também, sabe? A troca. E é sufocante quando algo interrompe a voz de sair da tua garganta.
Já trabalhei em alguns espaços que me calaram, de uma forma ou de outra. Lembro que uma vez criei coragem e, ao lado de uma colega de trabalho, fomos reivindicar direitos trabalhistas, ao passo que ouvimos de um ex-chefe a frase “não precisa chorar”. Em outro emprego, levei gritos de um editor de vídeo que tinha o dobro da minha idade, um pavão nitidamente necessitado de mostrar a sua suposta superioridade sobre uma jovem repórter para a redação inteira ver. Fui calada pelo cansaço e pela raiva nesse dia. Já tive colegas fotógrafos que se meteram de propósito na frente das minhas filmagens e que falavam comigo como se eu não tivesse ideia do que estava fazendo. Fui pedida que falasse menos de coisas “cabeças”, porque não era isso que o público “classe C” queria (são tantos absurdos nessa frase que isso, em si, merece um texto único).
Mas são espaços como o Nossa Fala que nos deixam, finalmente, falar. Eu quero conversar sobre fotografia ou edição de vídeo sem ser subestimada por colegas. Quero escrever sobre os Beatles ou os jogos de graça esse mês na PlayStation Network sem ter meu conhecimento testado. E quero que isso seja uma via de mão dupla: quero mais e mais gente nessa roda de papo não-etílica (ou pode pegar uma cerveja, se quiser). Não sou aqui um ser pretensioso que acha que todo mundo tem que ler o que escrevo porque — oh meu deux — como eu sou foda. Não sou. Mas acho foda que a gente possa ter um lugar seguro para a verborragia feminina. Como é normal de uma jornalista, eu tenho muito a dizer. Mas não precisa ser jornalista para isso e é só ver o tanto de mulheres incríveis e diversas, de múltiplas áreas de atuação, fazendo parte desse time.
Então falemos, amigas! Não aceito menos do que colocarmos aqui nossos cérebros, corações e pulmões até que falemos pelos cotovelos, juntas.